sábado, 31 de julho de 2010

Dois Homens, Dois Marcos




Não tenho tido muita vontade de escrever, estou em São Paulo ha três dias e apenas consegui fazer um pequeno poema... Há seis meses, que voltei a me contentar com pequenos poemas. Para dizer a verdade, talvez nunca devesse sair disto. Foi temerário seguir os conselhos da minha amiga Arlete, a Fada-das-Letras e entrar nesta salva desconhecida de fingir que sou cronista e vos entupir de crónicas… Graças a Deus, tenho a certeza que não serão lidas, vão desistir antes de iniciarem a enfadonha leitura e… eu tenho que envergonhadamente agradecer a vossa falta de vontade de perderem o vosso precioso tempo…

O outro culpado da minha ousadia é o Brasuca ACAS, escritor brasileiro Antônio Carlos Affonso dos Santos, não é que o maroto só sabe elogiar e ver arte em tudo que é escritos… ele disse me que escrevo bem e eu na vã gloria de me comparar com os que transformam a inanimadas letras em palavras e estas em frases vivas e textos com vida embarquei na onda dele...

Se por um lado ainda não pude conhecer a Arlete, minha ilustre professora virtual e amiga, a mulher que faz das letras a magia poética... Fui até Lisboa, era o meu maior desejo encontrar-me com ela, mas os imprevistos do destino nos colocaram longe um de outra a distância entre Santarém e Chelas em Lisboa. Tive o enorme prazer de conhecer o ACAS. Estive com ele uns escassos 40 minutos ou pouco mais, me pareceram ser alguns segundos... Ele não quis que eu regressasse a Cabo Verde sem conhecer a Avenida Paulista... Estou no hotel na República, o mais certo era regressar sem conhecer a famosa Avenida Paulista, se não fosse o ACAS. É verdade, já me ia esquecer, embora esteja com eles a poucos centímetros, ele me ofereceu três livros, sendo dois de autoria dele, o “Fragmentos” e o “A Sementinha” e aproveitamos as facilidades do mundo moderno e falamos com a Arlete. Não é que nos aproximamos mais... E aceitou escrever o prefácio da loucura minha e da Arlete, o “Olhares da Saudade”.

O “ Olhares da Saudade” é um “manuscrito” que eu e a Arlete escrevemos em parceria, na verdade ainda não terminamos, estamos a pensar escrever três volumes... já terminamos o primeiro... a nossa ousadia nos levou a convidar o ACAS para entrar nesta aventura e escrevermos os três o segundo volume. O ACAS não só aceitou escrever o prefácio, como aceitou embarcar no nosso “navio maluco” e eu... Sou o mais louco dos três... Já estou a morrer de ansiedade para iniciarmos o segundo volume...

Não é só ACAS que vi ontem, não conheci apenas a Avenida Paulista, antes, no intervalo de almoço fui com o Mario, o Mario é o funcionário com quem vim trabalhar, até a “25 de Março” e tomei um banho de ilustres desconhecidos que tanto orgulham os Paulistas, pelo menos é a sensação com que fiquei pelas palavras do Mario... Foi lá que vi um homem, um ilustre desconhecido, que irá morar no meu subconsciente talvez pela vida inteira. Nunca vi ninguém mais sujo e tão mal vestido... ele estava tão sujo que confundia se era branco, mestiço ou negro e... Vestia, alias trazia como camisas uns cartões e como calças... Também uns cartões que fingiam ser uma saia... E calçava literalmente nada... Graças a Deus este é o inverno quente e a noite? Perguntei-me a mim próprio...

-A impressão é a primeira vista... – fui informado – existem muitos albergues em São Paulo, mas preferem viver assim que se sujeitarem as regras dos albergues...

Será que irei pegar nesta frase e me sentir menos culpado pelas injustiças e desigualdade humanas? Não sei, amanha ao fim do dia irei voltar para Fortaleza e de lá para Cabo Verde. Será o fim de mais uma viagem... Na bagagem levarei mais três livros e a imagem de um amigo, o grande ACAS e de um desconhecido vestido de cartões, entre muitas outras recordações...




João P. C. Furtado
São Paulo, 10 de Julho de 2010

sábado, 17 de julho de 2010

PARDAL AUSENTE

Meu Pardal meu especial confidente
Para onde tu meu grande amigo foste
Tantas lamúrias, tantas más novas deste
E sem mais nem menos desapareceste,
Sabias que até fiquei muito contente
Contigo, meu grande amigo, ausente?
Logo pensei que a harmonia fez-se presente...
Puro engano, vã esperança, ... Os acidentes
Continuam acontecendo e... A humana mente
Engendrando maldades e destruições diariamente
A diferença foi, te digo Pardal, (in)felizmente
Eu me tornar do “País das Maravilhas” residente
Porque te perdi, tu meu grande informante!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

BELA DE MARISE





BELA DE MARISE

Há meses, quando escrevi uma crónica sobre duas amigas minhas… uma delas minha conhecida, posso dizer, sem me enganar que vi a nascer… vi ela a dar os primeiros passos… a escola, o trabalho, o filho, sei tudo sobre ela. A Bela, Bela de Marise para todos os amigos…
Juntei na crónica uma outra mulher. Uma mulher do meu actual mundo, o meu mundo Virtual. Este mundo de muitas decepções, mas também de muitas alegrias. A Cristina Ubaldo, professora e escritora. As duas tinham, aliás, têm em comum a mesma doença, o cancro. Havia dito que eram duas mulheres muito forte, eram duas das muitas heroínas anónimas e estava certo… apenas não imaginava que o cancro havia de chegar tão perto de mim….
Muitas coisas mudaram em pouco tempo…. O câncer chegou mais perto de mim e o medo e a tristeza de ver amigos a sofrer e com coragem superarem o dia a dia… está muito mais perto de mim, a minha mulher, a pessoa que me acompanha desde a minha juventude, a pessoa que faz parte de mim, que jamais imaginei viver separado dela por mais de alguns poucos dias… está há mais de quatro meses longe numa luta contra o câncer. Ela também revelou-se forte e esta neste momento a ser tratar nos Estados Unidos. E eu….
Tive que aprender de novo a viver sem a companhia dela…tenho superado as saudades e as preocupações e tenho conseguindo com muita dificuldade organizar a casa, bem tenho recebido ajuda importante das minhas filhas… e não aconteceram poucas coisas nestes poucos meses de provações.
Meu pai adoeceu de repente. Tudo indicava que era uma simples gripe, a febre não passava e a temperatura do corpo era alta, tive que o levar ao hospital. Dias depois saía do hospital com a informação que havia tido uma crise de pneumonia e que para não contrair mais nenhuma “complicação” ele devia continuar o tratamento em casa. O estado dele era de melhoria continua… afirmaram… Fiquei contente, ele não queria ficar internado… mas nunca mais foi o mesmo. Deixou de se movimentar e a circulação sanguínea tornou-se deficiente. De dia ia trabalhar e as minhas filhas tomavam conta dele e a noite era a minha vez de lhe dar toda a assistência. Não teve melhorias. A temperatura só baixava a força dos medicamentos e o sofrimento dele me fazia sofrer como se fosse eu…e por fim, o principio do fim. Tive que leva-lo de novo ao hospital e de lá nunca mais sairia com vida.



A Bela regressou à Cabo Verde. As notícias não eram boas, mas era ela que mais animava todos que a iam visitar. Ela estava cheia de dores e falava no futuro, no único filho, nas festas e nos salões de beleza. Ria das anedotas forçosamente contadas e mostrava o corpo, cada vez mais fraco, como sendo o modelo da beleza. O rosto de anjo dela continuava Bela e sorridente… sempre que a ia visitar, eu regressava de rastos… sentia o sofrimento da minha amiga e via como sou pequeno e mesquinho e como ela era altruísta e nobre… foi de regresso de uma destas visitas que escrevi este poema:


BELA DE MARISE


Bela minha querida, teu sofrimento
Eu sinto dentro de mim, minha heroína
Lágrimas deito vendo-te na morfina
Ainda assim tendo alto pensamento!


De certo sabendo que tens dias contados
Esperanças tu aconselhas aos demais marcados!


Meu bem, tua memória deve ser preservada
Aqui onde quero colocar os deuses menores
Recanto este te reservo e quando morreres
Imagem tua estará neste poema lembrada,
Sei… falei contigo, ouvi-te és tão forte
E, … Deus te escolheu e te deu esta sorte!




Não pude visitar a Bela como queria, sob protesto da doença do meu sogro fugi algumas vezes desta dolorosa missão, nesta vontade de ir vê-la e “anima-la”… Era ela que mais me animava, a duas únicas vezes que coube-me o papel de tentar dá-la algum alento foram, a primeira há uma semana quando ela esteve nas Urgências inanimada… ela não conseguia dizer uma única palavra…, no dia seguinte, quando a fui ver em casa, ela já estava a sorrir e muito fraca, mas bem lúcida dizia-me:
-João, vi-te no hospital. Já falta pouco… Como esta a Nelita? Diga ela que tudo vai correr bem, para ela ter esperança em Deus. Ela vai ficar boa!
Brinquei com ela, escondi a dor que sentia, disse-a que ela era a mais bonita das três irmãs, ela disse que sim, que não tinha dúvidas sobre isto… e é verdade ela era linda.
A outra vez foi na última Quinta-Feira. Ela apenas conseguiu dizer-me:
-João, és tu? Como esta a Nelita…
E fechou os olhos, belos, jovens e serenos…
E vi na dor da mãe dela, a Marise… a mesma dor que ela a Bela estava a sofrer, nas irmãs e nas muitas amigas e amigos sempre presentes… isto foi há três dias, na sexta-feira passada não tive coragem de ir vê-la, queria guardar comigo a lembrança da Bela, a menina serena a dormir que havia visto no dia anterior… foi a mesma que encontrei ontem, serena, bela e num sono profundo… vi o corpo, toquei nas mãos e no rosto frio e sem vida… o corpo, porque a alma, esta sei que partiu… como todos os anjos a Bela esta neste momento no Céu na companhia de Deus, Virgem Mãe e dos Anjos e Santos em que sempre acreditou e colocou a esperança!

Com lágrimas nos olhos, aos quatro dias do mês de Julho do ano dois mil e dez,

sexta-feira, 9 de julho de 2010

MENINO DE RUA

Vai o menino tímido no meio da multidão
Ele já esqueceu que se chama Juvêncio
E caminha ele na rua no eterno silêncio
Vai trémulo e tímido e apertado o coração!

A mãe morreu ontem e o pai nunca teve
Vai pelo mundo sozinho andar sem amparo
Quase nu vai vestido e no rosto pouco preparo
Que da sociedade nenhuma misericórdia obteve!

Quando a fome sentir o menino Juvêncio
Irá ao lixo das esquinas tirar a refeição
Todos passam por ele, ninguém tem a reflexão
De ler nos seus olhos a fome no seu silêncio!

Quando anoitecer e sem Sol tudo ficar escuro
O menino cairá cansado numa qualquer esquina
É mais um que ao “menino-de-rua” a sorte lhe destina
E a sociedade continua no silêncio com coração duro!

sábado, 3 de julho de 2010

BELA DE MARISE

Bela minha querida, teu sofrimento
Eu sinto dentro de mim, minha heroína
Lágrimas deito vendo-te na morfina
Ainda assim tendo alto pensamento!

De certo sabendo que tens dias contados
Esperanças tu aconselhas aos demais marcados!

Meu bem, tua memória deve ser preservada
Aqui onde quero colocar os deuses menores
Recanto este te reservo e quando morreres
Imagem tua estará neste poema lembrada,
Sei… falei contigo, ouvi-te és tão forte
E, … Deus te escolheu e te deu esta sorte!