terça-feira, 28 de junho de 2011

UNESCO MANIFESTO DOIS MIL


Uma iniciativa tão boa
Num esforço sem tréguas
Este de PAZ, não só falar mais alcançar
Sem duvidas que é tão nobre
Como indispensável para este conturbado mundo
Onde houver um homem deve ser proclamada!

Marchemos unidos para a PAZ
Atrevamos pensar como Gandhi
No esforço de uma luta sem armas e sem tréguas
Inda que para tal, a morte inglória alcancemos
Faremos o que certo está, e, o mundo agradecerá
Este nobre gesto à favor da PAZ tão desejada
Sinal este que da UNESCO vem este ano
Tarde, nunca jamais será se abraçados
Os homens todos neste sentido remarem!



gesto à favor da PAZ tão desejada
Sinal este que da UNESCO vem este ano
Tarde, nunca jamais será se abraçados
Os homens todos neste sentido remarem!

Do futuro os nossos filhos e netos
Orgulhosos do passado nos agradecerão
Ilustrando com o nosso exemplo
Sua Historia e seu destino futuro!

Mil razões temos, nós os homens de
Instruirmo-nos na senda da PAZ, para
Liberdade, amor e harmonia alcançarmos!

João Furtado

LANÇAMENTO DO LIVRO A TERRA E A GUERRA PELA PAZ

http://praiafm.sapo.cv/article/28255




02 DE JUNHO DE 2011

PAÇOS DO CONCELHO DA CAMARA MUNICIPAL DA PRAIA






http://praiafm.sapo.cv/article/28255

LANÇAMENTO DO LIVRO "A TERRA E A GUERRA PELA PAZ-VOL II"

http://praiafm.sapo.cv/article/28255


domingo, 26 de junho de 2011

BELMIRO BATALHO





B Belmiro grande amigo
E Esta triste noticia recebida
L Lágrimas nos meus olhos criaram
M Meu grande afilhado e estimado compadre
I Infeliz, eu sinto a dor de saudade infinita
R Recordo-me dos nossos momentos vividos
O O meu pesar e a minha mágoa é enorme!

B Batalhaste toda a vida pela vida e
A A morte veio quando menos esperavas
T Te tomar e contigo ir para a eternidade
A Amigos e família deixaste desamparados
L Lamentando a falta que jamais será colmatada
H Hoje perdemos-te, meu grande amigo
A As tuas filhas de ti recordarão com respeito e admiração!





João Furtado

Praia, 26 de Junho de 2011

domingo, 12 de junho de 2011

NÃO AO TRABALHO INFANTIL

N Neste Domingo de festas Juninas
à A reflexão é, sobretudo este flagelo
O O trabalho infantil... É uma vergonha...

A A data de hoje é de alerta há anos
O O “não ao trabalho infantil” é gritado e o Mundo...

T Ter duzentos milhões fora das escolas
R Recrutas e militares infantis na África ou no Mundo
A Ardinas e agricultores e sapateiros e passadores de drogas
B Barbeiros e vendedores do próprio corpo
A Afastados dos pais ou obrigados pela miséria
L Levantando mãos num gesto habitual de pedinte
H Haja sol, chuva ou vento, sem onde se abrigar
O Os teus filhos, homem, eles são os teus filhos menores…!

I Implacável e cego pensas apenas em ti
N Não vez que amanha será tarde
F Fabricas tristezas e vendes lágrimas
A Ao explorares crianças e aceitares
N No lugar de estarem nas famílias e nas escolas
T Terem como único espaço a rua das amarguras
I Infelizes chorando das saudades dos seus…
L Logicamente, deves ter vergonha de seres homem!


João Furtado

Praia, 12 de Junho de 2011

sexta-feira, 10 de junho de 2011

LUIS VAZ DE CAMÕES

L Lamento, mas não consigo escrever
U Um poema sobre ti, Camões
I Inspiração pura dos deuses das letras
S Soberbo Príncipe dos poetas

V Vou me calar e escutar e talvez
A A arte ler um pouco nos LUSIADAS
Z Zelosamente escrita e cantada por ti!

D Desculpe-me a amiga Arlete Piedade
E Esta missão de um poema fazer para hoje....

C Claro que muitos poemas serão escritos
A Ainda bem que existem muitos e bons poetas
M Minha tristeza é não poder falar e escrever
Õ O poema que mereces, mas não ouso atrever-me
E E passar para papel o que nunca imaginei
S Ser poeta e honrar o maior de todos com meu poema!

João Furtado

VIAGRA NOVA ARMA LETAL

VIAGRA NOVA ARMA LETAL

Ó Pardal meu amigo
Que cara é esta
Depois de tanta ausência
Que atribui a paródia e festa
Coisas que não dão comigo!

Caro e néscio João
Venho da África o norte
E trago triste noticia
Nova arma da lenta morte
É usada e ataca o coração!

Meu Pardal, na guerra
Tudo é permitido
Que no inimigo não se fia
De que armas fazem sentido
Que se desconhece cá na terra?

De Viagra foi dado o nome
E tem efeitos colaterais
Transforma o pénis em morteiros
Tanto dos soldados como dos generais
Pois não há quem não os tome!

O pior é os gritos e lamentos
Que com prazer se confundem
Tal zumbi as mulheres nos desesperos
Não vêm a morte que pedem
E vivem o resto dos dias nos tormentos!

Como és humano e sentimental Pardal
Tão sentidos são teus relatos
Que sinto o sofrimentos dos maridos
Vendo as mulheres sofrerem tamanhos actos
Impotentes rogando pelo Juízo final!


João Furtado

Praia, 10 de Junho de 2011

domingo, 5 de junho de 2011

AMOR A VIDA

A Amar a terra, necessário se torna
M Mesmo porque não existe outro planeta
O Onde a vida nela habita
R Reflitamos e ecologicamente alimentemos!

A A Economia verde se quer e urge implementar!

V Vai ser difícil continuar assim
I Infestando a terra de lixo
D Destruindo o ozono com gazes…
A A nossa morte estamos nós a decretar!

João Furtado

05 de Junho de 2011

PRAIA SEM AGUA

P Perante este cenário que fazer
R Revirar a torneira e nem uma gota
A Assistir a luta por uma pinga no chafariz
I Imaginar a solução transferida para amanha e
A Acordar com o pesadelo da sede natural...

S Sem alternativa alguma viável
E Estou a lavar-me com água de colónia
M Mesmo estando perante recessão económica!

A A dificuldade é o cheiro que me enjoa
G Gripado e sem dinheiro para o remédio
U Únicos tostões vão para a limpeza a seco
A A Praia Capital chama todos para a praia do mar banhar!


João Furtado

Praia, 06 de Junho de 2011

sábado, 4 de junho de 2011

RECICLAGEM AMBIENTAL

R Relembrar nunca é exagero
E E quando a vida está em jogo
C Claro que não se deve cansar
I Imaginar e reciclar pede-se
C Como nunca reduzir os detritos
L Lixos temos nós que sobram e ameaçam
A A Terra e a vida que nela vive
G Gerados são por nós os humanos
E E todos os seres vivos estão sendo cobrados
M Mesmos os mais resistentes como as tartarugas!

A Amanha e ontem e hoje são dias do ambiente
M Meu amigo, ainda somos os únicos conhecidos
B Bilhões de planetas provavelmente existirão
I Infinitamente o universo é enorme
E E impossível de se conhecer totalmente
N Na verdade falta-nos conhecimento
T Talvez no futuro saibamos se lá... Chegarmos
A A certeza pura é que para chegarmos ao conhecimento
L Logicamente temos que salvar este PLANETA VIVO!


João Furtado

Praia, 04 de Junho de 2011

sexta-feira, 3 de junho de 2011

ENTREVISTA A NHU LOBO

Querida Amiga Arlete




No outro dia à teu pedido andei por ai a procura de pessoas importantes para fazer uma entrevista. Sabes, agora sem curso nem experiência, não se consegue uma viva alma que queira perdeu seu precioso tempo conosco... Eu até já estava a desistir e a regressar a casa, minha amiga, quando encontrei num canto, abandonado o Nhu Lobo.
Coitado, ele estava sozinho e triste. No canto jogado, todo rasgado, velho e sujo. Parecia um pedinte... Se não o tivesse conhecido desde criança, nunca imaginaria que era ele.
Sabes... Nhu Lobo deliciava a minha infância e como continuei a viver... Isto é um segredo, amiga, não digas a ninguém... Eu não cresci, os anos passaram por mim, estou com quase 60 anos e continuo com oito. Gosto das mesmas coisas e sinto as mesmas frustrações... Não foi difícil, embora ele estivesse tão diferente, reconhecer o tão conhecido Nhu Lobo, o Ti Lobo...
Aproximei-me muito divagar até junto do desgraçado e com muito respeito o pedi que me abençoasse. Tu não sabes, mas vou dizer-te, a minha Ilha é talvez a única que tem tradições muito rígidas, por exemplo, as de tomar benção aos mais velhos, uma espécie de vaticínio que eu, que continuo no meu mundo dos anos antigos não dispenso... Gosto e os mais velhos ficam felizes, então porque não matar dois coelhos de uma só vez?

O Ti Lobo me cumprimentou, fez como nos tempos antigos, ele não tem cura mesmo, foi no crioulo. A amiga não entenderia, por isso vou traduzir, irá perder uma boa parte da riqueza, mas que posso eu fazer, amiga?

- Que Deus não te falte um pouco de farelo! Que te deixe com a boca cheia, nem que seja de peixe podre. Lembra-te sempre mais vale uma língua totalmente inchada que uma boca vazia!

Não é que me surgiu uma idéia naquele momento? Rapaz e se tu fizeres a entrevista ao Nhu Lobo? Pensei e logo quis por em prática... Em “off”, como agora se usa muito neste mundo de tecnologia, perguntei ao Nhu Lobo se quisesse ser entrevistado. Ele negou, esperneou, mas por fim aceitou. Envio-te para veres se dá para pores no nosso Jornal...

EU – Ti Lobo, o senhor já tem certa idade...

NHU LOBO – Certa idade.... Bem não posso imaginar quantos anos tenho. Ao certo não sei quando. Estou no imaginário do meu Povo, nasci com a imaginação do meu Povo cabo-verdiano e tinha a idéia que eu iria continuar vivo enquanto o meu Povo vivesse.

EU – O Ti Lobo disse “iria continuar vivo enquanto o meu Povo vivesse” o que quer dizer com isto?

NHU LOBO – É que agora não estou certo disto. Gosto do meu farelo, meu peixe podre, restos de comida. Algumas vezes não dispenso um bom ovo da Tia Ganga... Mas o que me alimenta é o imaginário do meu Povo e vejo o meu Povo com cada vez menos tempo para mim... Mas o problema é outro!

EU – O Ti Lobo está muito pessimista...

NHU LOBO – E tenho razões para estar. Veja só... No teu tempo de menino existia algum menino Cabo-verdiano que não me conhecesse?

EU – Sinceramente... Acho que não, não juraria... Mas era quase impossível... O Nhu Lobo a par do Chibinho e a da Tia Ganga eram os nossos heróis!

NHU LOBO – Tu chegas-te ao centro do problema... Agora os heróis são outros...

EU – Quem são eles?

NHU LOBO (Deu uma gargalhada triste) – Não sabes?

Eu sabia, pelo menos imaginei em quem o Nhu Lobo falava, mas não disse. Cabia a ele responder... Não fui pescar para ser pescado!

EU – Ti Lobo, aqui que faz as perguntas sou eu e quem as responde é o Ti Lobo, estamos entendido? Que são os novos heróis?

NHU LOBO – São muitos, desde Tio Patinhas até o Capitão America. Sabes... Nós somos um povo que gosta de estrangeiros, eles chegaram e estão a tomar o nosso lugar!

EU – Ti Lobo o problema não seria outro? No meu tempo já existia o Aladino, o João do Feijão e o Gigante, mas o Ti Lobo continuava vivo, alegre e sempre a ser ultrapassado pela sabedoria do Chibinho e força feminina da Tia Ganga. E os três até menosprezavam os “estrangeiros”. Eles eram sérios e os meninos queriam rir... Não seria porque Ti Lobo tornou-se sério de mais...

NHU LOBO – Achas divertido o “SANKUKU” e outros SAMURAIS, sempre belicosos e em permanente guerrilhas na terra e arredores... Achas divertidas as guerras?

EU – Bom... Bom... Ti Lobo, eu pergunto e...

NHU LOBO - ... Eu respondo... ah ah ah ah ah , está bem, mas responde apenas esta, achas divertido?

EU – Não acho... pronto... Tem razão. Até porque naquele tempo achávamos que devíamos seguir sempre o Chibinho e que se fossemos como o Ti Lobo... Procurando vida fácil, iríamos perder no fim...

NHU LOBO – Também é verdade que tens razão... Ainda ontem, eu, a Tia Ganga, coitada é a mais velha, embora tivesse sempre um corpinho que sempre... Bem me faz esquecer a fome pela comida. E o Chibinho. Nós os três falávamos sobre a nossa mais que provável morte.
Sabes em que conclusão nós chegamos?
Que o nosso maior inimigo foi a energia eléctrica chegar até nós antes de estarmos preparados para entramos neste mundo. Olha o Aladino. Ele é, talvez, da nossa idade ou muito mais velho que nós. Com uma ajuda dos Americanos ele entrou na modernidade e vive na paz e sem sobressaltos. É certo que o Génio das Lâmpadas nem sempre o dá grandes ajudas, mas vão vivendo na medida do possível. Até a Raposa Portuguesa, creio eu, está nas modernices e lá vai vivendo, se não fosse o “GAME BOY” até podiam estar mais vitalizados…

EU – E, então… tem alguma ideia que possa fazer-vos, digamos, ressuscitar?

NHU LOBO – Ideia, ideia tenho… o problema é por em prática. Sabe nós estamos atrasados e não vemos quem de direito fazer nada…
EU – O Ti Lobo está um pouco político, o político é que está sempre a falar “quem de direito”, não acha?


NHU LOBO – Eu acho que não tenho como entrar no mundo moderno se Cabo Verde não apostar mais na minha vida nas escolas. Se eu continuar apenas na primaria… Quando aparecerão desenhadores para me desenhar em quadradinhos e proliferar as livrarias? Se não existir concurso de contos infantis tradicionais, como terei nova vida? Olha eu ainda não comprei um televisão e nem tenho um computador… O Mundo avança e eu vejo o burro do Chibinho passar…

EU – Esta a chamar Chibinho de burro?

NHU LOBO – Não, estou apenas a dizer a verdade, olha…


EU – Ti Lobo, desculpa cortar-te… mas estou a ver que tem muito para dizer e já estou cansado. Sai para fazer uma das modernices da velhice, caminhar contra Colesterol. Teremos oportunidade para nos falarmos mais sobre este e muitos outros assuntos. Ainda falaremos do tua vida passada, já que o presente teu, me parece moribunda e o futuro incerto…

NHU LOBO – Estarei cá sempre, podes vir quando quiseres, mas te digo que só sobreviverei sem entrar na televisão e na escola…

EU – Está bem, está bem. Na verdade me pareces um bom político… ah ah ah ah, voltarei. Os meus agradecimentos pela entrevista, em meu nome pessoal e em nome do Jornal ou jornais (estás a ver? Estou como tu, muito presunçoso) que irão publicarem a nossa entrevista. Até a próxima, muito obrigado, mais uma vez, Ti Lobo!

NHU LOBO – Que tal me agradeceres com UM DEZ?

EU – Ti Lobo, tu não mudas mesmo, és sempre assim, um incorrigível. Por estas e outras é que voltarei.

Amiga Arlete, foi assim que terminei a minha entrevista ao NHU LOBO. Com a promessa que voltarei. Não sei se um dia voltarei ou não… Talvez algum jornalista de verdade peque na deixa e faça uma verdadeira entrevista aos responsáveis sobre as nossas míticas figuras… temos mais, o Chibinho, a Tia Ganga, o Bulimundo, o Corvo e muitos outros… talvez eu faça mais uma ou outra entrevista de brincadeira como esta… Talvez, quem sabe o futuro?

Continuei a minha caminhada despreocupado. Afinal quem já viveu quinhentos anos ou quase pode passar a vida vegetativa, mas reanimara de certeza um dia, a morte propriamente dita o Lobo jamais terá. Espero que o Povo Cabo-verdiano nunca permita que tal aconteça.

Não sabes, mas te digo. UM DEZ é um cálice de grogue de pior qualidade. Se quiseres provar UM DEZ tens que pagar dez escudos Cabo-verdeano. Entretanto eu te aconselho um ponche, afinal é mais feminino e menos prejudicial para a saúde!

João Furtado
Praia, 18 de Setembro de 2010

O DIA DOS ENTERROS

Recebi com consternação a notícia. Convivemos com a morte desde que nascemos, mais jamais nos habituamos com ela. Principalmente se conhecemos a pessoa que morreu, como era o caso. A Didinha era minha amiga e prima afastada da minha mulher. Mas era prima e graças a Deus somos um povo muito ligados por laços parentescos. Não creio que exista outro povo que tenha uma família tão grande como a nossa.
A Didinha era minha prima, casei com prima dela.
Iria para sua última morada as quinze horas. Era esta a informação que chegara até mim. Não podia faltar a cerimónia. Teria que a acompanhar. Ela jamais me perdoaria.
A Didinha morava na Achada Trás e eu em Lém Ferreira. O Enterro teria que forçosamente passar por Lém Ferreira. Iria esperar na estrada, pelo cortejo. Por enquanto temos apenas um Cemitério na Cidade da Praia. Está constantemente a romper pelas costuras. Já foi várias vezes estendido. Os serviços camarários sabem que a Cidade esta a pedir outro Cemitério, mas ninguém tem coragem de mandar construir outro. Todos têm a certeza inabalável que seriam o primeiro cliente da nova casa. Se é verdade que a morte é certa, também é verdade que ninguém a deseja por esposa.
A Didinha era negra e bela. Somos um povo mestiço. A nossa cor adivinha sempre uma mistura. Mesmo nos mais negros adivinham-se sempre uma certa mestiçagem. Mas na Didinha era difícil ver nela mais que a beleza da pura raça negra, nem precisava pintar os lábios, pareciam pintados de verniz preto, de tão negro que era.
Nenhum olhar masculino era inocente quando o alvo era a Didinha. Ninguém resistia aquela beleza selvagem. E vê-la andar… Era dengosa e a sua curva saliente, formada por contraste de seu volumoso e arredondada coxa e fina cintura, cadenciava no movimento rítmico do esquerda, direita ao som do batuque inexistente… Não deixava nenhum ser humano de sexo masculino indiferente.
Não vou falar do rosto angelical dela. Se anjo negro existisse, os escultores inspirariam na Didinha para as esculturas, mas não existiram, hoje ela vai ser enterrada e muito provavelmente toda a beleza dela irá terminar debaixo de um palmo e meio de terra.

Ela tinha uma saúde de ferro. Era peixeira. Passava a vida a vender peixe. Ela vendia o peixe por quase todas as portas de Lêm Ferreira. A Didinha tomava o autocarro a porta da casa ia até ao cais, comprava peixe. Fazia resto de viagem a pé levando na cabeça um grande alguidar com água e peixe, no total o alguidar teria no mínimo 30 quilos ou mais. A água serve para que o peixe apresente sempre fresco aos olhos do comprador.
A Didinha vendia peixe e só regressava a casa a noite. Nunca almoçava. Embora tivesse oito filhos, ninguém a dava mais de 25 anos. A morte não só apanhou a Didinha desprevenida como nos apanhou a todos seus amigos, familiares e compradores do seu peixe. Ninguém esperava que ela morresse. A lamentação era geral.
Preparei-me para ir ao enterro. Procurei a roupa com cuidado, alias, a minha mulher teve o cuidado de me supervisionar. Não podia levar nada que tivesse um pingo de vermelho ou cores similares. Quis levar comigo um livro, para ler enquanto esperava pelo cortejo. A minha mulher achou que eu não devia levar. Não seria de praxe. Sem ela, a minha mulher, ver apanhei um livrinho de bolso e levei escondido.
Fui esperar na rotunda de Lém Ferreira. A minha mulher não foi, não se sentia bem. Ela estava exausta, ela tinha passado a noite acordada no nojo enquanto eu dormia. Cumprimentei algumas mulheres que encontrei lá. Provavelmente ia ao mesmo enterro e estavam também a espera do cortejo. Sentei sobre uma pedra e comecei a ler, enquanto esperava. As mulheres falavam entre si. Era normal.
Não sei quanto tempo esperei. Veio o cortejo ao passo do caracol. Entrei nele e fomos rumo ao Cemitério da Varzea. Ia acompanhar a bela e querida Didinha para sua última morada.
Entrei num grupo de religiosos. Estavam a rezar o terço a Virgem Mãe, a Didinha foi mãe, também foi pai, mas isto é outra história. A Didinha merecia ser comparada com a Virgem Mãe.
Íamos a pé, quase sempre vou a pé para os enterros. Uma das causas é porque não tenho nem carta de condução, nem carro. Outra razão é porque sempre vão muitas pessoas a pé, porque iria eu de carro? Continuamos a rezar as Ave-Marias, as Santa-Marias e os Pai-Nossos. Terminamos com uma longa Ladainha própria para cerimónias destas. Por fim o improvisado chefe da cerimónia pediu para a defunta…
-Rezemos uma Ave-Maria e Um Pai-Nosso para a alma do José, mais conhecido por Don, que Deus tenha piedade da sua alma.

Eu estava no enterro errado. Não era o enterro da Didinha, não rezei pela alma da Didinha, mas pela do Don.
Veio a minha memória um poema que fiz a anos sobre dois irmãos que o destino fez deles pequenos delinquentes. Será que era um deles que morreu? Pergunto ao vizinho de lado. Nestas coisas nada melhor que perguntar o vizinho de lado.
- O que é feito do irmão?
- Está na cadeia, – respondeu-me o vizinho da circunstância – nem o dispensaram para o enterro. Esta gente não tem coração.
Senti o meu corpo a estremecer desde a unha dos pés até os fios de cabelo. Fui um profeta. Previ a vida dos dois irmãos gémeos. Estou no enterro de um, por engano, enquanto o outro está na cadeia. Bem feito, que me mandou escrever isto? Era a vida privada deles:

Outra Metamorfose Comum e Rara
Duas crianças, dois inocentes
Gémeos e irmãos
Pequenos e insignificantes
Don e Don-Don
Duas crianças, dois inocentes
Gémeos e irmãos, duas crianças
Sem conduta a conduta
de Don e Don-Don
Pequenos e inocentes
E tal como todas crianças
A mãe os defendeu enquanto pode
E como mãe que era
Tudo que ganhavam
A mãe levavam
Don e Don-Don
Duas crianças, dois inocentes
Gémeos e irmãos, duas crianças!

Dois adolescentes, dois inocentes
Gémeos e irmãos
Pequenos e não tão inocentes
Não tão Don e Don-Don
Novo nome foram baptizados
Pimenta e Malagueta, terror da Praia e arredores
Dois adolescentes, dois inocentes
Gémeos e irmãos
Pequenos e não tão inocentes
Esfarrapados e espancados
Fruto da sociedade que foi cega
Fruto da sociedade que é juíza
Dois adolescentes, dois inocentes
Gémeos e irmãos
Pequenos e não tão inocentes
Detidos e soltos, soltos e detidos
Menores e sem tratado
Menores e sem trabalho
Menores e sem família
O pai na cadeia civil
E a mãe no tribunal
Dois adolescentes, dois inocentes
Gémeos e irmãos
Pequenos e não tão inocentes

Dois Adultos, dois culpados serão
Pimenta e Malagueta
Gémeos e irmãos
Juntos ou separados
Na campa ou na cadeia
No hospital ou no hospício
Dois Adultos, dois culpados serão
Pimenta e Malagueta
Gémeos e irmãos
Filhos da sociedade cega e imoral
Filhos da sociedade juíza e carrasca
Dois Adultos, dois culpados serão
Pimenta e Malagueta

Mas, agora revejo tudo, no poema tinha posto todos os cenários. Não fui profeta nenhum.
Segui até cemitério. Senti-me no dever moral de acompanhar o Don a sua última morada. Graça a Deus os enterros são todos iguais. No cemitério e na dor não existem diferenças. Os próximos choram e pedem para serem enterrados em solidariedade ao defunto. Os não tão próximos, choravam pelos seus mais próximos falecidos mais ou menos recentes.
Resolvi esperar no cemitério o cortejo da Didinha. Fui sentar e esperar. Veio uma senhora. Sentou ao meu lado. Ficamos sentados e calados por algum tempo. Ela não resistiu e disse:
-Coitado do Don, morreu na flor da idade.
-Sim, o irmão gémeo teve melhor sorte – respondi enquanto imaginava a morte do Don - está preso!
Na minha imaginação o Don havia sido morto. Ninguém me disse, mas isto era coisa da Polícia. Estavam fartos de o prender. Levavam ao Tribunal e saia livre. Não fora preso dentro da Lei. Tinha a história do flagrante delito. A historia do prazo de apresentação. Os detalhes da legalidade que eram sempre esquecidos pela Policia. Principalmente quando se tratava de pequenos larápios. É irritante ver esta gente a roubar ninharias diariamente. Apenas para suprir o dia a dia. Porque não fazem grandes roubos? Podiam reduzir a quantidade pela qualidade.
Tornava a fazer das suas. Ia ao tribunal e era preso, na cadeia sentia-se melhor que na rua. Tinha tudo que não tinha na rua, por exemplo a televisão. Saia e tornava a fazer as mesmas coisas. Sofria a mesma pena. Não havia dúvidas. Foi um polícia que o baleou…

A mulher suspendeu a minha imaginação:

- O Don não tem irmão gémeo nenhum. – Disse-me ela – o irmão que está preso é mais velho mais de dez anos. Este sim, o António é que devia morrer. Aldrabão. Ladrão. E brigão. Não há quem no bairro que não tem uma queixa dele. Muito diferente do José, o Don, bom rapaz. Pescador exemplar e bom pai de família. Morreu de paludismo.
A Natureza tem sua incompreensão. Porque iria morrer um coitado de paludismo numa terra que não chove. Que…
Ela não deixou-me continuar o meu raciocino:
-Perdeu no bote quando foi pescar, foi encontrado por um navio Grego e deixado em Dakar. Veio de Avião. Dias depois sentiu febre e tremura. Pensou que eram passageiras e não eram. Quando foi ao hospital já era tarde!

Não imaginei mais nada. Puxei do meu livro e comecei a ler, a espera da Didinha, ia me despedir dela para sempre…

Fim

João Furtado

Praia, 08 de Março de 2009

quarta-feira, 1 de junho de 2011

O DIA INTERNACIONAL DA CRIANÇA

Despercebido hoje não é decerto
Internacionalmente foi dedicado o dia
Ainda que sem se perceber os direitos atropelados!

Infelizmente não consigo escrever
Nada sai da cabeça para o computador
Tantas são as coisas para dizer
E eu não consigo, não sei nem como começar
Reclamam de Líbia e da Síria a minha atenção
Na África e no Oriente continuam a trocar
A escola para o trabalho duro e penoso
Claro que da rua ainda fazem o lar
Inocentes muitos fingem que são adultos
Ou fumam o cigarro ou bêbados ou drogados
Nos bandos ou isolados violentam ou são violentados...
As palavras me faltam e bloqueado
Luto por escrever e não consigo!

De que sociedade espera o futuro enquanto
As crianças continuam a serem assim formadas?

Como dizer... Não sei como falar de criança
Resta pouca esperança quando diariamente
Insistentemente são noticiadas violências
Acometidas por crianças nas escolas
Não sei onde está a culpa, mas urge mudar
Caminhar pela brincadeira e pela paz...
As cantigas da roda e contos antigos devem ressuscitar-se!


João Furtado

01 de Junho de 2011