quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O NATAL DO JOAQUIM

Era uma vez, um menino que morava numa casa muito pequena e feita de pedras soltas e de barro. A casa era coberta de palhas. Ele vivia com a avó. A mãe tinha morrido e o pai viajado para Europa e nunca mais tinha dado noticias.
O nome da avó era Matilde e do menino era Joaquim. Ele e a avó Matilde moravam no campo, numa localidade rural da Ilha de Santiago chamado Rui Vaz.
O Joaquim tinha apenas oito anos, mas era ele que tinha a responsabilidade de sustentar a casa. Ele levantava cedo e ia buscar água no burro. Graças a Deus, ele tinha um burro. Depois ia dar palha a única cabra que tinha e milho as quatro galinhas e um galo. Se fosse tempo de “as águas” ia tratar de roçar ou semear ou mondar conforme a época... As duas coisas que um menino de oito anos devia fazer eram estudar e brincar, o Joaquim não tinha tempo.
O Joaquim não tinha tempo para estudar nem para brincar.
Havia meses que a avozinha Matilde havia se adoecido e não podia fazer nada. Ela estava cada vez mais fraca. Os vizinhos ajudavam, mas cada família estava verdadeiramente mais preocupada com os seus próprios problemas, que não eram poucos.
O pior aconteceu, era uma sexta-feira triste de Dezembro, triste e coberta de nuvens cinzentas. Era na noite de Natal. Havia muita festa em todas as casas, menos na casinha pobre do Joaquim. A avó Matilde estava a delirar, ia morrer...
O Joaquim chorava, gritava e rezava, mas ninguém ouvia. A noite era de festa e de Missa. Uns tinham ido a São Domingos que era a localidade mais perto ouvir a Missa de meia noite. A Missa que anunciava o nascimento de Jesus. Outros estavam a preparar os bolos e as comidas próprias para a data.
Apenas uma casa vivia a tristeza da vinda da morte e da separação da única família que o Joaquim tinha. A casa do Joaquim.
No momento em que o Joaquim desesperado caiu por terra num sinal de impotência e resignação, ele ouviu uns toques suaves na porta. Nem perguntou quem era. Disse apenas:
-Por favor, entre, venha me ajudar!
Um homem velho e de cabelos brancos entrou e aproximou-se e disse:
-Joaquim, meu filho, que posso fazer para te ajudar?
-Senhor salve a minha avó, é única pessoa que eu tenho no Mundo!
-Meu filho, ela tem que partir, é a lei da Vida.
-Mas Senhor, eu não tenho mais ninguém neste mundo. Como irei ficar sem ela?
-Tu tens-me, meu filho. Também tens o teu pai. Não sabes, mas ele pode te ajudar...
-Senhor, nunca eu vi o meu pai, nem sei quem ele é.
-Ele vai aparecer, vem dorme. Descansa aqui na minha perna.
-Sim Senhor!

O Joaquim ajoelhou-se e colocou a cabeça sobre a perna do velho e estranho visitante. Adormeceu.
E foi assim que o pai dele o encontrou meia hora depois... Era quase Meia-Noite...

O pai do Joaquim, cansado com a emigração havia resolvido regressar. Chegou e encontrou a mãe falecida sobre a cama e o filho ajoelhado a dormir, com a cabeça sobre a almofada. Na noite de Natal.

João P.C.Furtado
Praia, 30 de Novembro de 2010


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