A saudade faz o homem sonhar
E novamente o Príncipe, a Ilha
E a cidade minúscula e velha
Com outros meninos a brincar
Na praça e a noite quase escura
Que brincadeira tão inocente, tão pura...
Os adultos, alguns, sentados
E nós num esconde, esconde...
Doce e bela paz, ficaste onde?
Hoje estou longe da Ilha e de todos!
Numa outra Ilha, Santiago em Cabo Verde
E sonho com a minha pacata Ilha toda verde...
O toque de meia em meia
Dava a hora na torre
E nós crianças no corre, corre
Gritando não ouvíamos, era da alegria
Já existia no mundo a televisão?
Dela na Ilha do Príncipe nem a visão...
As vezes os adultos levavam o recetor
Era a Rádio a dar o relato do Sporting-Benfica
O Eusébio marcava e... Delírio... Grande Benfica
O Miguel dos Prazeres com pouco humor
Quebrava o seu inseparável radio
O Sacadura tinha outro já embrulhado, sabia do vício!
O Pedro Sapateiro com os amigos
Jogavam e apostavam pequena quantia
Era proibido, mas estava fechada a sapataria
Mal se via a luz dos pequenos candeeiros
E o rumor era que até os policias jogavam
Mas as histórias eram muitas que se contavam...
Cresci assim no Príncipe, a minha Ilha
Entre histórias mil dos feitiços e das encantadas
E dos jogos e das roças e fortunas perdidas
Uma ilha que tudo era pura maravilha
E eu já grande, criança continuava a ser
Alegre e a realidade... Sem querer saber!
Praia, 28 de Abril de 2013
João P.C.Furtado