quarta-feira, 4 de março de 2015

O MEU PRIMEIRO “MEIO-DIA” DE ESCOLA


O MEU PRIMEIRO “MEIO-DIA” DE ESCOLA 

Meu primeiro dia de aula? Tenho pouco para dizer de bom. Já falei da pequena cidade e repetir seria, desculpa o pleonasmo, ser repetitivo.  Foi naquela cidade de Sto. António de Príncipe. A escola era numa antiga igreja com uma torre onde havia um enorme relógio, espero que ainda lá esteja, que de meia a meia hora despertava a cidade com o seu toque característico, bastava contar para saber que horas eram… Bem meio-dia e meia, uma hora e uma hora e meia eram apenas “um DOMMMM”.
Eram sete horas e meia quando encaminhei pela primeira vez até a escola. Fui sozinho, tinha sete anos e cresci na cidade. Não senti alegria nem tive tristeza. Apenas fui à escola.
Os professores chamaram os alunos, cada um os seus. Não havia lugar para todos na antiga igreja. Os Novatos foram para uma sala pertencente ao paço do concelho. Era o maior edifício da cidade e era onde toda a autoridade da Ilha se instalava. Desde o chefe máximo, o Senhor administrador até nós, simples alunos da primeira classe e no primeiro dia de aula.
Recordo do meu pequeno livro de onde só entendia os desenhos, do meu lápis, que pequei com a mão esquerda e fiz algum rabisco… Entretanto o que não esqueço é do intervalo.
No meu primeiro intervalo, eu totalmente desadaptado com o meio, eu antes sempre brinquei sozinho no rio ou no campo, depois de algumas correrias, cansado e aborrecido encostei-me na parede do edifício para recuperar o ar. Ao lado estava uma mesa, provavelmente foi colocado ai provisoriamente. Tive a infeliz ideia de subir sobre a mesa e descansar.
Cinco minutos depois, eu estava no chão e com o braço direito imobilizado. Nunca tive a certeza do que teria acontecido.  Tenho uma vaga imagem de ter sido puxado por uma colega, a Leonor (Nónó), mas como ninguém disse ou confirmou nada… Restou-me ser levado pela minha mãe à Sã Maía.
O Professor Pascoal teve o bom senso de mandar chamar a minha mãe por um dos alunos. Éramos todos conhecidos na cidade.
A Sã Maía entendia do assunto. Juntou folhas diversas que triturou num pilão e adicionou vinagre. Com a mistela, duas ripas feitas de cartão de papelão grosso e uma liga feita com a parte inferior da saia enorme da minha mãe, a Sã Maía imobilizou-me o braço direito.
Não fui ao hospital, não obstante a dor sentida, havia garantia que não seria melhor no hospital. Afinal foi o meu primeiro “meio-dia” de escola.
  
João Pereira Correia Furtado
Praia, 06 de Fevereiro de 2015
http://joaopcfurtado.blogspot.com