terça-feira, 18 de novembro de 2014

NATAL



NATAL

Nasceu o Menino esperado
Ansiosamente anos e anos
Todos esperavam fogos de artifícios
Afinal foi na manjedoura
Ligado a pobreza estrema!

Não tinha berço nem cama
Apenas o afagar das ovelhas
Teve um pai na terra e no Céu
As estrelas pareciam brilhar mais
Lembrando aos homens a Verdade

Não teve roupa e de presente
A mira, o incenso e um pouco de ouro
Tão pouco quanto simbólico
A humanidade que tanto O esperava
Lidava com os seus outros problemas!

Novas e novidades O menino
Aos homens de boa vontade
Trouxe em abundância sem medida
Apenas uns pastores as receberam
Liricamente tocaram flautas para anunciarem…
Ninguém reparou naquele Menino
A pobreza que O envolvia
Talvez estava a cobrir a Nobreza da
Altíssima missão que o destinava e a
Linhagem Divina do Filho de Deus!

João Pereira Correia Furtado
Praia, 18 de Novembro de 2014


A FESTA, A MORTE E O GÉNIO

                                A FESTA, A MORTE E O GÉNIO

Ainda hoje é normal ver-se um menino a morar com a avó e serem apenas os dois, os únicos elementos da família. Mas a história que vou contar aconteceu há anos.
Um menino morava numa casa muito pequena e feita de pedras soltas e de barro. A casa era coberta de palhas. Ele vivia com a avó. A mãe tinha morrido e o pai viajado para Europa e nunca mais tinha dado noticias.
O nome da avó era Manuela e do menino era João Pedro. Ele e a avó Manuela moravam no campo, numa localidade rural da Ilha de Santiago chamado Rui Vaz.
O João Pedro tinha apenas oito anos, mas era ele que tinha a responsabilidade de sustentar a casa. Ele levantava cedo e ia buscar água no burro. Graças a Deus, ele tinha um burro. Depois ia dar palha a única cabra que tinha e milho as quatro galinhas e um galo. Se fosse tempo de “as águas” ia tratar de roçar ou semear ou mondar conforme a época... As duas coisas que um menino de oito anos devia fazer eram estudar e brincar, o João Pedro não tinha tempo.
O João Pedro não tinha tempo para estudar nem para brincar.
Havia meses que a avozinha Manuela havia-se adoecido e não podia fazer nada. Ela estava cada vez mais fraca. Os vizinhos ajudavam, mas cada família estava verdadeiramente mais preocupada com os seus próprios problemas, que não eram poucos.
O pior aconteceu, era uma sexta-feira. Alegre para todos menos para o João Pedro. Para o João Pedro o dia era triste e sombrio. O Céu estava coberto de nuvens cinzentas. Era o dia da festa da aldeia, no dia seguinte iria haver um casamento e todos estavam nos afazeres da festa. Apenas o João Pedro acompanhava a avó Manuela estava a delirar, ia morrer...
O João Pedro chorava, gritava e rezava, mas ninguém ouvia. A noite era de festa e o barrulho dos tambores e das danças abafava tudo. Os que não dançavam, uns estavam a pilar o milho, outros estavam a preparar os bolos e as comidas próprias para o casamento.
Apenas uma criança vivia a tristeza da vinda da morte e da separação da única família que ele tinha. Era o João Pedro.
O João Pedro desesperado caiu por terra num sinal de impotência. Foi quando viu por baixo da cama uma garrafa escura, parecia ter por dentro o “azeite de pulga”*. Pensou que podia ajudar a avó, pelo menos aliar um pouco a dor. Pegou na garrafa e começou a esfregar…
De repente a tampa soltou-se e de dentro da garrafa saiu um homem enorme e vestido de roupas brilhantes. Na Cabeça tinha um enorme turbante. No desespero nem perguntou quem era. Disse apenas:
-Por favor, venha-me ajudar!
Um homem e aproximou-se e disse:
- João Pedro, meu filho, tens mais dois pedidos, sou um Génio e só posso fazer três pedidos, faça o segundo.
-Senhor salve a minha avó, é única pessoa que eu tenho no Mundo!
-Meu filho, ela tem já partiu, é a lei da Vida. Aqui nem o Génio pode interferir…
-Mas Senhor, eu não tenho mais ninguém neste mundo. Como irei ficar sem ela?
-Tu tens-me, meu filho. Também tens o teu pai e tens mais um pedido. Não sabes, mas ele te pode ajudar...
-Senhor, nunca eu vi o meu pai, nem sei quem ele é.
-Ele vai aparecer, vem dorme. Descansa aqui na minha perna.
-Sim Senhor!

O João Pedro ajoelhou-se e colocou a cabeça sobre a perna do Génio, o estranho visitante. Adormeceu.
E foi assim que o pai dele o encontrou meia hora depois...
O pai do João Pedro, cansado com a emigração havia resolvido regressar. Chegou e encontrou a mãe falecida sobre a cama e o filho ajoelhado a dormir, com a cabeça sobre a almofada.
Do Génio nem sinal. E quanto ao casamento… Teve que ser adiado, pois a vila ao tomar conhecimento da morte da Manuela, todos se consternaram e lembraram-se do menino abandonado!


João P. C. Furtado
Praia, 17 de Novembro de 2014
http://joaortado.blogspot.com

*azeite de pulga – Óleo de rícino 

AO ENTARDECER O QUADRO CONTINUA



 
Ao entardecer na Ilha bela e maravilhosa
Tu e eu… Eu e tu contemplávamos o sol
Peguei-te na mão e via-te amor orgulhosa
Enquanto o Astro Rei escondia atrás do farol


Cansados resolvemos entrar na água… na praia
Entrelaçados e cheios de sonhos beijávamos
A sombra da noite não reduzia a nossa alegria
Não tínhamos nada além da vida e dos sonhos


E também tínhamos a água tépida do mar
Onde a natureza confundia a sua sublime energia
Com o nosso forte e único deseja de amar
Como era bela a certeza que amanha era outro dia

Mas era mais um dia para o nosso amor se vibrar
Saímos da água e sentamos ao pé do coqueiro
A Natureza falava mais tudo parecia silenciar
Perante o nosso amor tão nobre e tão verdadeiro

A natureza nocturna acordava ávida de amar
E nós curiosos e amantes comtemplávamos a noite
O mar não se cansava de os nossos pés molhar
E eu não cansava de falar do futuro tal um vidente


Hoje veio a idade mas não levou o desejo de sonhar
Vemos os nossos frutos os mais velhos são pais
E sorrimos para os netos, um a rir e outro a chorar
Ao entardecer o quadro continua cheio de animais

Praia, 18 de Novembro de 2014
João Furtado
http://joaopcfurtado.blogspot.com