terça-feira, 22 de dezembro de 2015

UMA GIGANTA DE PALMO E MEIO

UMA GIGANTA DE PALMO E MEIO

Fui convidado por Irmão Juvenal para irmos ao São João Baptista para mais uma campanha apostólica. Não vou repetir que éramos cinco e que partimos as sete para chegarmos à tempo de assistir a missa que começava as oito horas, mais vou dizer que dos cinco, um era Irmão Vaz e que veio da Guiné Bissau e aproveitando a nossa ida, ia participar na campanha e conhecer mais uma localidade bela da nossa minúscula Ilha de Santiago... Bem é a maior Ilha só que somos um arquipélago que só aparece no mapa encomendado e inflacionada a escala propositadamente... Mais pequeninos não nos livram de sermos gigantes. “O tamanho não é documento” disse alguém um dia.

Mal a missa começou reparei nela, uma criança que parecia uma jovem ou uma jovem com corpo de criança de seis ou sete anos... Ou uma criança de 17 anos? Para dizer a verdade, só soube a sua idade pouco tempo depois, quando tivemos a oportunidade de falarmos. Com uma camisola azul e decorada com frases em francês de frente e na costa uma de vários de nome de vários países e uma calça de ganga. Bela de rosto, aliás, é o rosto parecia ser o único sinal da eventual idade da nossa protagonista. Unhas pintadas de um verde brilhante e se não tinha os lábios pintados, não era por falta de vaidade, mas sim por serem parcos os seus meios econômicos. 
Fim da missa, o padre, Frei Andrade Viegas, Moçambicanos de nascimento e missionário em Cabo Verde anunciou a nossa presença e o Irmão Juvenal, nosso porta-voz falou da nossa missão. Saímos da missa e já no átrio da Igreja, há sombra de um barracão feito para reunião e afins, começamos o nosso trabalho, tentando identificar antigos Legionários. Conseguimos três e mais um, digo mais um, pois se ele muito nos contou sobre o passado dos Presidiuns pouca disponibilidade teve para nos acompanhar e o motivo justificava, ele pediu, em memoria da mãe falecida três meses antes, que o Sr. padre rezasse por ela...

Precisávamos de pelo menos cinco acompanhantes e o senhor padre Frei Andrade pediu para reunir com os jovens, entre eles a menina criança dos 17 anos. Enquanto sondávamos e falávamos sobre os que pertenciam antes a Legião de Maria, ele fazia sua breve reunião com os jovens. Terminada a reunião, os jovens preparavam-se para dispersar, não deixamos. Improvisamos um encontro e conseguimos que do grupo dos jovens se formasse o embrião do que no futuro pensamos que germinarão vários presidiuns, e agora?

Pedimos cinco voluntários para nos acompanhar, pois íamos sair e porta à porta fazer o nosso trabalho de apostolado. A primeira a se apresentar como voluntária foi a pequena jovem menina. Pensei logo comigo que ela iria desistir depois de quatro ou cinco casas, por precaução escolhi mais uma jovem para fazer “par” comigo... Que engano, já íamos na vigésima casa e quase dois quilômetros andados entre ladeiras e espinhas subidas e descidas e eu já quase sem folego chegamos a casa da minha minúscula guia...
-Bem agora ficas por cá! –Disse eu e como a resposta eu tive o seguinte:
- No serviço de Cristo não se para no meio, vai-se até o fim!
E fomos até o fim, ela sempre fresca, a giganta de palmo e meio, Clara Janice. E eu tive uma das maiores lições da vida!
Para o Cristo todo o sacrifício é pouco! 


João Pereira Correia Furtado
Praia, 21 de Dezembro de 2015