terça-feira, 9 de setembro de 2014

O MEU MELHOR AMIGO É VOCÊ




Meu amor de longa data
Você é a minha melhor amiga
Seja o que de mim você diga
Minha certeza em ti é perfeita

Na minha ou na sua doença
Você e eu estamos lado a lado
Se preciso de amor ou cuidado
Você, meu amor é minha esperança

Amor, pediram-me para escrever
E o tema e sobre um amigo verdadeiro
Tenho alguns, mas você é única de puro oiro
Você mulher e amor é o meu tesouro
Habituei-me ao seu lado e por você ver
O mundo que é nosso e onde aprendi a viver

João Furtado
Praia, 09 de Setembro de 2014

DOIS AMIGOS




Pior que viver de uma agricultura de subsistência, é vive-la numa ilha martirizada pela natureza, onde a chuva não poucas vezes “esquece” da sua visita anual. Não poucas eram as crianças, já com dois e mais anos e que nunca tinha sido molhadas pela natureza.
O José e o Antonio viviam numa ilha assim, entre carestias e alguma benesse divina lá foram crescendo. Quantas vezes a fome diária era esquecida com um pouco de “grogue” e a noite, sem onde dormir, pois até o caminho de casa esqueciam, abraçados numa esquina passavam a noite.
A terra era de esperança, anualmente, quando as nuvens teimosamente juntavam sobre a ilha, umas vezes para anunciar a aproximação da esperada chuva, outras vezes para desgraça dos agricultores, gastarem até o último tostão numa sementeira “em pó” ¹, a espera da água enviada por Deus. Vezes sem conta, dias depois a Ilha era visitada por prolongados ventos do leste e as nuvens eram afastadas.
A pior é a noticia que chegada pouco tempo depois. Os pescadores informavam que houve chuva e muita chuva, mas no alto mar.
-Não conseguimos pescar nada, a chuva e o temporal não nos deram o sossego necessário para uma pesca.
O pescar precisa de uma disposição e nervos de aço, esperar tempo indeterminado até que o peixe caia no engodo e engula uma isca e com ela o traiçoeiro anzol…
Mas não é da Ilha, nem das armadilhas do mar que quero aqui perpetuar, mas sim do José e do António. Num dos dias em que o António conseguiu acordar a tempo, o José continuava a dormir que nem uma pedra, se a pedra tivesse a capacidade de roncar… O António até insistiu para o acordar, mas desistiu.
Deixou-o a dormir e foi andando. Passou pelo “lugar” de uma viúva de nome Belmira. A Belmira estava na sementeira, embora a chuva ainda não tivesse caído nem uma única gota. Era a sementeira “em pó”. E como estava com falta de trabalhadores, resolveu para ao António para cavar a terra. Este estava fraco e com fome, mas fez de tripas coração e pegou na enxada. Trabalhou a custo até ao fim do dia e conseguiu ganhar um dia de trabalho.
Mal recebeu foi procurar o amigo, onde o havia deixado a dormir, mas, não o encontrou. Perguntou por ele. Mas ninguém sabia nada sobre o José.
-Ele passou por cá, eram dez horas – Disse uma vendedeira – Ele queria “um dez” mas comigo é assim, “dinheiro na mão, costa no chão”, sem dinheiro não há grogue.
Ele continuou a procurá-lo, perguntou e perguntou, mas parecia que o José sumira. O António esqueceu-se de comer e de beber. Esqueceu-se de tudo, menos do José.
A noite já ia longa, quando ele chegou a uma das muitas praias que rodeavam a ilha. Cansado, com fome e a tremer, por falta de álcool, habitualmente tinha no sangue. Viu um corpo estendido na praia. Aproximou-se e deitou ao lado. Não conseguiu reconhecer quem era…
No dia seguinte foram encontrados, dois corpos abraçados e sem vida. No bolso de um deles estava o correspondente a um dia de faina. Era o António e o outro… O outro era o José, dois amigos inseparáveis, que num dia aziago, separaram por algumas horas na vida!
João Furtado
Praia, 09 de Setembro de 2014
¹ - Sementeira “em pó” – Semear antes de iniciar a chuva, bem próximo da época chuvosa, porá aproveitar toda a gota de água.
₂ -  “Um dez” – Um copo de grogue (aguardente de cana).