quinta-feira, 30 de outubro de 2014

MARIAZINHA VIOLADA

MARIAZINHA VIOLADA

Rasgada,humilhada,o rosto cabisbaixo
Pequena e inocente Mariazinha violada
Quase nua...com roupa esfarrapada
Tenra idade e já analizada de alto a baixo!

Cabisbaixa a Mariazinha continuou a brincar,
Tentando esquecer a dor,com a boneca.
A Mariazinha ganhou também uma caneca
E deu tudo o que tinha...restava apenas chorar!

A Mariazinha guardou a boneca com ela
E ainda hoje,muitos anos passados,
Mariazinha recorda os braços atados,
As pernas  abertas e as dores sentidas nela!

E eu,eu me recordo duma menina bendita,
De cinco anos e sem ninguém para a consolar,
Sentada, inocentemente, na praça a  chorar
Trazendo nos braços o preço da honra perdida!

João Pereira Correia Furtado

http://joaopcfurtado.blogspot.com
Embaixador Universal da Paz - França - Genebra - Suiça - Cercle Universel des Ambassadeurs de la Paix Delegado da U.L.L.A. em Cabo Verde

AS BALEIAS MORREM EM CABO VERDE



AS BALEIAS MORREM EM CABO VERDE

Porque estas tu tão triste Pardalito
Que nem me brindas com tua linda canção
Sinto que dói o teu sentido coração
Para estares tão calado, tão esquisito…

E eu, meu amigo irracionalmente dito
Sinto-te num silêncio tão sofrido…
Diga-me, meu amigo o que tens tido
Que em mil acontecimentos eu medito

Dizes que as baleias sufocadas
À terra estão a dar aos cinquentas
E que as mortas tristes não aguentas
Será que no mar as águas estão contaminadas?

Queres contar muito mais amigo
Mas não quero ouvir mais nada
Já tenho a vida toda desgraçada
Apenas por falar, meu amigo, contigo!

Não é fácil, te digo eu, Pardal mensageiro
Ser eu teu único e sempre confidente
E ouvir os sofrimentos tidos por ti mormente
Ainda que volúvel como és, todos passageiros!

Meu pardal, ao chorares a morte das baleias
Que em Cabo Verde tristemente se suicidaram
Mais uma vez, meu amigo Pardal, me provaram
Que o homem é único que resume-se as suas ideias!


João Furtado
Praia, 18 de Junho de 2010
http://joaopcfurtado.blogspot.com

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

A VISITA AO TIO JOÃO


A VISITA AO TIO JOÃO
A única riqueza que lhe restava era a vida. Com setenta e poucos anos parecia ter mais de oitenta. Todo curvo e cheio de reumatismo. Os amigos foram se escasseando, os mais novos ocupados com a vida e os mais velhos iam aos poucos para a verdadeira morada. Os vizinhos iam se trocando e os novos inquilinos vieram vacinados e imunes do conhecido e tradicionais “olá”, “bom dia”, “boa tarde” ou “até amanha, se Deus quiser”.  As famílias? Também foram vacinados, estamos no mundo das vacinas e das imunidades.
Ele comprou um apartamento onde morava com a mulher e dois filhos, em Carnaxide, não muito longe de Lisboa. Os filhos com a febre da emigração e a falta de trabalho digno emigraram. Foram para a França.
Certo dia a mulher adoeceu e ele fez tudo para que ela se curasse, mas o câncer foi mais forte. Dois anos depois e com muita dor e sofrimento ela recebeu a visita do Senhor e teve a Paz da Alma. Foi um alívio, para ela que tanto sofria e para ele que não sofria menos vendo sua amada a sofrer.
A partir daquele dia o céu apareceu mais cinzento, o sorriso menos alegre e o andar mais cansado. Recolheu-se a casa e só saia para ir a mercearia. Falava com o dono da mercearia, quem lhe dava algumas vezes fiado e ele pagavam quando recebia a pensão. Depois de algum tempo só o merceeiro sabia que ele era o Tio João. O Tio João era cada vez mais uma sombra ambulante.
Certa noite, depois de passar por mercearia e saldar todas as suas dívidas foi para o seu apartamento descansar. Era o que fazia diariamente. Descansava enquanto a cidade continuava a viver acordada dia e noite. Naquele dia não foi a excepção. Lá fora continuava a vida, carros a passarem, mulheres e homens a falarem dos seus problemas, jovens a namorarem, prostitutas e prostitutos a prostituírem… Enfim o normal do dia-a-dia.
Ele sentiu um leve bater na janela, estava no quinto andar, ninguém bateria a janela de um quinto andar, mas ele ouviu e levantou e foi ver. Perguntou se hesitar:
-Quem é?
-Sou eu, o teu Amigo, a tua Família, sou eu o Jesus Cristo, vim ti buscar.
-Um momento que vou abrir a Janela…
-Não é necessário, só preciso de ti… O teu corpo pode ficar, sai e vem que não temos tempo a perder.
O Tio João deixou de ir a mercearia, depois de duas semanas o merceeiro participou a Policia. Foi enviado um policia que foi e encontrou a porta fechada. Não havia arrombamento, estava tudo normal e nem havia o cheiro fétido da morte… Talvez já tivesse passado ou talvez, como era no mês de Dezembro e com o frio…. O cheiro não chegava a porta. Com tudo normal, tudo deve ficar normal.
Dez anos depois o serviço das Finanças recordou das dívidas do Tio João e leiloou o apartamento para pagar as dívidas do mesmo apartamento e ordenou que a porta fosse arrombada. O novo inquilino tinha que tomar a posse da sua propriedade…
O Tio João dormia eternamente na cama a espera que fosse enviado para sua última morada. Estava tão sem nada que podia ser usado para estudo do esqueleto humano.


Praia, 29 de Outubro de 2014
João Pereira Correia Furtado

A FILHA DO ESTUPRO




A FILHA DO ESTUPRO

Vivia com a minha mãe, nós as duas e as nossas e os nossos vizinhos, eu tinha 12 anos e ia fazer treze brevemente. Tinha um corpo um pouco desenvolvido e para a ilha, onde a maioria cresce lentamente e aos 13 anos muitas das vezes nem sinais de seios… Os meus treze anos me colocavam num patamar de quase uma mulherzinha. Mas em contrapartida me sentia uma criança, principalmente por ser filha de mãe-solteira, se é que exista mãe-solteira. Preferia dizer de pai ausente. As minhas carências afectivas eram enormes.
A minha mãe esquecida de ter uma filha de pai ausente já sonhava com um bom marido para mim em vez de sonhar com uma boa escola e uma boa formação.
Esqueci-me de me apresentar, sou Laurentina Maria Lara da Silva e actualmente tenho vinte e cinco anos, sou mãe de um filho de 6 anos de idade. Vivemos os dois, o pai, casado com outra mulher, quase nunca aparece e eu não faço questões da sua presença, aliás prefiro a sua ausência. Mas não é do meu adorado filho nem do seu pai que quero falar. É dum pesadelo que tive quando apenas tinha quase 13 anos de idade.
A minha mãe tinha e talvez ainda tem uma amiga íntima. A amiga estava em contas com a Justiça e precisou de arranjar um advogado. Conseguiu um, não recordo, aliás não sei se foi porque o pagou ou se foi um destes casos frequentes do advogado nomeado pela Justiça. A lei não permite julgamento sem estes, para mim, monstros da lei.  Não sei como e nem porquê o Senhor advogado tornou-se no amigo das duas amigas Laurentina da Silva, a minha mãe e Maria Lara a sua amiga, é no meu nome que se comprova quão amigas as duas eram.
Quanto ao advogado, este apresentou-se sempre com o nome de Senhor Advogado Court Lawyer  ou simplesmente senhor Lawyer. Era um homem muito simpático, não obstante a avançada idade. Estava sempre a me contar histórias e a brincar comigo. Eu quase o idolatrei até que aconteceu o que nunca devia ter acontecido.
Um dia a minha mãe e a amiga dela saíram. A mim a minha mãe me disse que ia com a amiga ao consultório do Dr. Lawyer. Eu já era crescida e podia ficar sozinha em casa até chegar a hora de ir para a escola. O almoço estava na panela e era apenas eu me servir e comer. Era normal, foi assim desde quando eu tinha apenas 6 ou pouco mais. Ela, a minha mãe era uma espécie de compras e vendas, ela era uma “rabidante”.  Saíram, eu fiquei em cassa. Chegou a hora da escola, peguei na pasta e coloquei as costas, senti alguém a bater na porta, nem perguntei, pensei que era a Lourdes, minha colega, íamos sempre juntas. Abri a parta e era ele,  nem me veio a cabeça que a minha mãe e a amiga foram precisamente ao escritório do Dr. Court Lawyer…
Ele entrou e me acariciou como de costume e perguntou-me se ia a escola, eu disse que sim e ele se ofereceu para me dar a boleia. Esqueci-me por momento da Lourdes. Sai e tomei a boleia. Mal entrei no carro senti-me tal “A Capuchinho Vermelho” perante o Lobo… Ele acariciou-me de novo e senti que a caricia era diferente, era quase como o sempre, mas diferente a diferença que se foi acentuada até… Até ele dizer que ia me dar um passeio. Comecei a sentir-me traída e enganada… Quis sair do carro, não me importava as consequências da provável queda, mas não consegui. As portas estavam bloqueadas. Tentei gritar, pedir socorro… Nada a música estava alta e enchia tudo a volta…. O pior…
O pior foi o sorriso dele a afirmação que o carro era a prova de bala e do som, este é um “topo-da-da-gama” em segurança e que lá dentro estamos “seguros”  aprendi a diferença entre seguro e seguro… enfim…. O nojo tomou conta de mim… Paralisada senti-me um trapo, perdi naquele momento toda a confiança no homem… Pouco recordo da dor, do que aconteceu… Recordo sim do que senti-me, estuprada, violada, vencida pela maldade… Recordo-me que entramos numa das poucas florestas que existem nos subúrbios….
Senti-me humilhada, cheia de nojo e suja… Sobretudo senti vergonha de mim mesma e medo de dizer que aquele homem tão cordial era um monstro… Quem acreditaria em mim?
Minha mãe ela e só ela podia e devia acreditar em mim, humilhada, suja e cheia de vergonha fui conta-la, não sei onde fui buscar toda a coragem e menos ainda sei onde encontrei coragem para receber e ouvir e assimilar a resposta da minha mãe, afinal estava eu a pagar a violação que o meu ausente pai actuo sobre ela. Ela me disse que devia ter a mesma postura, pois ela não foi chorar perante ninguém… Paguei com estupro o estupro do meu pai à minha mãe… Sou a filha do estupro…
E hoje? Vivo na mesma rua como a minha mãe e a amiga dela, mas não tenho nem a coragem nem a vontade de ir a casa dela e falar com ela e a amiga. O advogado conseguiu livrar a amiga da embrulhada, diga-se de passagem, que nunca me importei de saber o que era, e o Senhor Dr. Advogado Court Lawyer é o santo das duas amigas!

Nota – Uma moça de 25 anos, alegre e bela, não a conheço pessoalmente. Ela viu o meu blogue e várias vezes pediu-me para encontrarmos… Não tive tanta coragem e ontem ela se abriu para mim no FACEBOOK e eu escrevi o “conto” ou a realidade acima. Os nomes… São da minha invenção... As lágrimas dela e minha, pois chorei assim que terminei de escrever este conto ou esta realidade, pois os actos são reais!
  
Praia, 29 de Outubro de 2014
João Pereira Correia Furtado
    

terça-feira, 28 de outubro de 2014

O MEU E O TEU POEMA


Bem na verdadeira comparação
Sou eu de poema o Lázaro
Comparado com tanto ouro
Que vi no teu e dou-te razão

Que em teus se vêem traços da musa
Que de mim sempre divorciadas
Nunca por elas senti acariciadas
Apenas sou enfim “um simples coisa”

Só me resta a impune febre
Que me obriga escrever embora pobre
Servem para comparar com a arte nobre
Que cabe a sorte e faz que o predestinado sofre

João Furtado
Praia 28 de Outubro de 2014
Http://Joaopcfurtado.blogspot.com


RESPOSTA PARA Gilberto Nogueira de Oliveira

RESPOSTA PARA Gilberto Nogueira de Oliveira

G ente assim também existiu
I nfelizmente nas roças ouvi dizer
L embrança de infância algo ficou
B em... Com o tempo chegaram
E ergueram bandeiras mais belas
R esplandecente o sol também
T eve razões para sorrir um pouco
O dinheiro este continuo tão pouco, tão pouco...

N ada na barriga ela continuou vazia
O açoite acabou e o trabalho livre
G entilmente só quem queria e podia
Ú nica certeza é que nem com ele
E muito menos sem ele para se viver
I nfelizes eles sonhavam com a Ilha
R espiravam e suspiravam com o regresso
A inda continuam a respirar e a suspirar... É LONGE E ILHA!

O ntem chegaram quatro e para... dizem
L embrança do passado e matar a saudade
I nfelizes não viram nada do que deixaram
V er 1947 em 2014 é obra de magia
E vão regressar... Tudo está diferente
I nfelizmente as raízes deixadas verdes
R essequidas e mortas estão há anos
A s poucos restantes olvidaram a memória!

João P. C. Furtado
Praia, 28 de Outubro de 2014
http://joaopcfurtado.blogspot.com

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Roseli Busmair e Arlete Piedade EU DEIXEI DE CHORAR

Roseli Busmair e Arlete Piedade EU DEIXEI DE CHORAR

Deixei de chorar
Já não choro
Pois já chorei de mais
E demais senti as minhas lágrimas
Correrem nas lavras do meu rosto
Que hoje as lágrimas
Já habituadas a escorrerem
Rosto abaixo
A caminho da lagoa
Que aos meus pés formaram
Elas as lágrimas
Sem eu desejar
Nem querer
Já saem e caminham
Rumo a lagoa
Aos meus pés
Sempre e sempre e sempre
Que sinto
Por mil razões
A necessidade de chorar
E resisto
E não choro
Só as minhas lágrimas
Indiferentes
Insensíveis
Inacreditáveis
Escorrem para a lagoa
Que aos meus pés se formam
Sempre e sempre
Que a minha Paz interior
É quebrada
Pelas guerras e injustiças
E pelas Justiças injustas
Pelo mal
Que nunca julguei existir!

As lágrimas saem e correm
Para a lagoa aos meus pés sem eu chorar
Pois há muito que deixei de chorar

João P. C. Furtado

João Pereira Correia Furtado
Praia, 27 de Outubro de 2014
http://Joaopcfurtado.blogspot.com

O SABOR DA PAZ -DUETO DE ANTONIO TAVARES E JOÃO FURTADO

O SABOR DA PAZ -DUETO DE ANTONIO TAVARES E JOÃO FURTADO
A PAZ PERPETUA NA POESIA MADINTER


SINTA O SABOR...
DA PAZ PERPETUA NA POESIA  MADINTER

Partilho-te a minha paz em forma cosmética
Encontrada na anatomia da veia poética
Fugindo cogitação absolutamente patética
Abraçando Justiça, Amor, verdade e ética

Esta paz alienada em momentos e motivos
Realidade exprimida no mundo dos cativos
Desejos ardentes das almas puras e pacifistas
Convicção profunda das consciências humanistas

SINTA O SABOR...
DA PAZ PERPETUA NA POESIA  MADINTER!

Quero viver a minha paz neste mundo de poesia
Fazê-la, Canta-la, vivê-la lá em voz e na harmonia
Esta paz sempre afirmada, desejada e negada
Nas mentes pujantes da tendência globalizada

A minha paz afirma-se em consciência dia-a-dia
Escolhe os seus motivos na pura essência da razão
Atua por princípio, amor e bondade no coração
Garante o raio de sol e o solo à toda a Nação

SINTA O SABOR...
DA PAZ PERPETUA NA POESIA  MADINTER!

Esta minha paz nega toda forma de dominação
Não encontra espaço, nem motivos para evasão
Por isso combato, promovo e defendo a inter-relação
E com toda a garra pugno apelando a multipolarização

Na poesia da paz
Dos céus caiem o pão da Dignidade
As terras entoam o hino da Liberdade
Os povos respiram o ar da tranquilidade
No universo, sentimos sol da solidariedade

SINTA O SABOR...
DA PAZ PERPETUA NA POESIA  MADINTER!

Esta minha Paz poética irreverente
É fruto de injustiça sobre os inocentes
Violências sobre os pobres e oprimidos
Alienação de Estados Independentes
Com futuro e progressos comprometidos

Faça parte da minha Paz Poética
Nela o céu brilha e será sempre azul
Alterando-se o sol, o luar e as estrelas
Jamais a escuridão será iluminada
Com bombas, Canhões, Tanques…
Com granadas e aviões de caça…


SINTA O SABOR...
DA PAZ PERPETUA NA POESIA  MADINTER


Ande sentir o Sabor da Poesia…
Nela encontraras a doçura da paz Perpétua
MADINTER é hoje o alfa e ómega de alegria
Mas esteja tranquilo, toda a decisão é tua!

SINTA O SABOR...
DA PAZ PERPETUA NA POESIA  MADINTER!

ANTONIO ANDRADE LOPES TAVARES
Bélgica, 25 de Outubro de 2014


A PAZ
A PAZ
A PAZ

A PAZ
A PAZ
A Paz que tanto falas meu irmão
É aquela que quero ter no coração
Onde o homem tem toda a razão
De viver sem medo nem compaixão

A PAZ
A PAZ
A Paz que que queres perpetuar na poesia
Onde o homem vive se ter nele a ganância
E por ganância a mortífera guerra anseia
E sem piedade mata e decapita por razão fria

A PAZ
A PAZ
A Paz onde a mulher é sempre respeitada
Onde nunca e jamais será condenada
Por matar para não ser vilmente violada
Muito menos à morte sentenciada

A PAZ
A PAZ
A Paz onde o  terrorismo torpe e malvado
Não use o terror e sangrar o solo sagrado
Pois é sagrado todo e o ponto do mundo
É esta a paz sonhada e que eu tenho procurado

A PAZ
A PAZ
A Paz onde o dinheiro vai para a saúde
Onde vivemos cordialmente na cidade
Sem falta e sem nenhuma necessidade
Onde é possível alcançar a felicidade

A PAZ
A PAZ
A Paz onde a criança estuda e é capaz
DE alcançar a desejada cultura da PAZ
Onde a escola criança em homem faz
Mas homem capaz de construir a PAZ
A PAZ

A PAZ

A Paz na poesia da MANDITER que queres o sabor
E a mesma que eu desejo e sou dela humilde embaixador
E diariamente rezo e escrever e sonho e com ardor
O mundo merece esta PAZ e por ela escrever a dor

      A DOR QUE O MUNDO SENTE PELA SUA AUSÊNCIA

João Pereira Correia Furtado
Praia, 27 de Outubro de 2014



domingo, 26 de outubro de 2014

ERA ASSIM A CARTA

ERA ASSIM A CARTA

Cá a carta começava diferente e tinha o seu ritual
Ao sabor do que era destinado e era o fim
Raros eram os de amor e de namorados
Ter pujança física e destemido no trabalhar
A terra era o caminho mais certo de ser piscado o olho…

Com o decorrer de trabalho o mais forte
Apreciava com determinação os olhares discretos delas
Rondavam e ofereciam agua e davam sinais
Te desejo para formarmos a família
A declaração muda era lida nos olhos

Claro que podia dar em pedidos de casamento
As vezes, maioria das vezes, num juntar dos trapos
Recorria-se aos momentos isolados para acerto
Tento três pequenas pedrinhas como a primeira carta
A rapariga atirava-as ao rapaz e dizia “te quero… te quero… te quero…”
 
Com isto podia surgir pedido de casamento ou não
As vezes nem no juntar de trapos dava
Rancoroso algum apaixonado secreto perdido na disputa
Tomava atitude estrema de “roubar” a rapariga
A ação era irreversível, ela seria do “ladrão” eternamente!
 
Cartas existiam e eram raros porque poucos escreviam
A ocupação nas cartas mais sérias e mais necessárias
Restavam pouco tempo para escritas de cartas de amor 
Tratando-se de escreverem e lerem para outro alguém 
A carta muitas vezes era escrita e lida pelo mesmo escritor

Com o ritual de “pequei nesta pena de ouro e meu bem
A sangrar meu pobre e nobre e doloroso coração
Retirei dele o sangue que transformei em tinta…”
Talvez o escritor das cartas se inspirou na “última ceia”
Ao ser ele muitas vezes o leitor e provavelmente o namorado…

Carta de saudade era mais frequente e chato para o escritor
Aqui estou eu rodeado de Fulano e Beltrano e Sicrano e
Recorro a esta saudosa pena para enviar cumprimentos
Tamanhos para Fulano e Beltrano e Sicrano nome por nome….”
Até terminar com “…E para aqueles que perguntaram por mim…” 

Claro esta que uma carta tem o escritor e o leitor e a mensagem
A infelicidade é que naquele tempo poucos sabiam ler e escrever
Recorrer a inspiração era necessária tanto para um como para outro
Ter sempre na cabeça que no acto da leitura da carta recebida
As pessoas presentes, sejam que forem seus nomes estão no carta…
Como não quero ser historiador ou antropólogo ou estudioso
Apenas como poeta que nem sei também se sou… Enfim
Recordo apenas a mais um estilo que é a carta da morte
Tamanha é a dor e o pesar que me obriga tirar do coração
A tinta sangrada para te informar que o fulano vive no paraíso…
Com tudo isto quero terminar de falar das cartas nesta crónica
As mil vezes vividas na Ilha do Príncipe como escritor e leitor
Respeitável e mais solicitado pelos emigrantes da fome 
Tive que fazer mil P.S. sempre que aparecia e eu já no fim
Alguém conhecido “Não esqueça de cumprimentar o fulano…
 
Com isto dispensava uma tristeza desnecessária…
A distância pode criar muitos esquecimentos mais também 
Recordações e saudades criam e quando resta apenas a esperança
Tamanha seria minha crueldade tirar daqueles que são 
As origens minhas que tanto orgulho me davam…
 
João Pereira Correia Furtado
Praia, 26 de Outubro de 2014