O
AMOR E O ÓDIO
Sabia que não devia ir, muito embora os
amigos insistissem para que fosse devia continuar a confiar na Martina ou pelo
menos fingir que confiava. Ele, Tonico, era loucamente apaixonado por Martina e
devia acreditar que era para um serviço licito e normal que ia todas as noites
e regressava de madrugada.
Não importava como ia vestida ou quase
vestida, a saia mal tapava a cueca e as pernas estavam quase todas à mostra e
protegidas apenas por umas finíssimas meias de cor vermelha. A Blusa quase
sempre branca ou bege de rendas e logicamente transparente... Podia ser apenas
a liberdade de estar na moda. O avultado dinheiro que diariamente, digo, todas
as madrugadas trazia podia ser de fruto de um esforço abdicado e constante que
a sua amada fazia. A indisposição para
receber um beijo ou um carinho amoroso era sem dúvida o cansaço a razão obvia.
As más línguas o mundo sempre as teve e
como sempre seriam sem fundamento, ele apenas correria o risco de à perder se
seguisse o conselho dos amigos ou talvez os inimigos, pois não existem maiores
inimigos que os falsos amigos.
Os rostos de troça que o envolvia era
superior aos de pena e aos de inveja. Pena por estar a ser um “coitado” e
inveja por ter uma das mais lindas mulheres em muitos quilômetros quadrados ao
seu redor.
Os da troça aumentavam de tal ordem pelo
tempo decorrido que a única solução era fazer o que tinha que ser feito...
Não disse nada a ninguém, até foi-se deitar
e fingiu que estava a dormir, cansado da labuta do campo, pois o Tinoco era
agricultor. Esperou que a Martina saísse e sorrateiramente segui-a até o local
do trabalho dela... Esperou escondido por uns vinte ou trinta minutos, pareceu
serem séculos, devagar foi aproximando até a porta e era um bar e viu...
A Martina estava sentada numa mesa, naquele
dia até levava uma blusa avermelhada e saia amarelada e não tão curto como das
outras noites. O seu belo rosto e o seu lindo peito sobressaiam... Seus olhos
fechados e significativamente sensuais e sua cabeça caída e apoiada num ombro
de um homem já de idade madura e que a beijava, dissiparam todas as dúvidas...
O que faria ele o Tinoco? Paralisado e sem
nenhuma ação aparente viu a cena por tempo indeterminado. E tornou a se
perguntar.
- O que farei agora? Onde e como irei
enterrar todo este ódio? – Pensou tão alto que a Martina conhecendo a voz
despertou e abriu os olhos...
Fim
João Pereira Correia Furtado
Praia, 04 de Novembro de 2015
http://joaopcfurtado.blogspot.com