domingo, 12 de dezembro de 2010

VAGUEANDO POR AQUI NESTE MUNDO

Andei naquele, noutro e neste autocarro
Ao lado esteve, está e estará um amigo caro
Que com encontros e desencontro já nem reparo!

Desta vez ia ver minha querida e estimada tia
O aniversário dela mais uma vez era o dia
Nada pude eu comer, um dente muito doía...

Enquanto o autocarro violentamente trepidava
Eu este poema imaginava e escrevê-lo tentava
Uma menina indiscreta ao lado gargalhada dava!

Perto uma madura mulher casada com o Baco
Tentava a força dar ao rapaz novo um cavaco
Ele, o rapaz na jovem força olhava com asco!

Meu pensamento continuava vagueando
Ao ritmo do autocarro sempre viajando
Aos homens e ao mundo meditando!

De Quioto à Copenhaga à Cancun há anos
De reuniões de certezas e de enganos
No céu o ozono chora com os danos!

África de Sul é a próxima esperança
Nesta caminhada que nada alcança
Porque o homem quer cheia a pança!

Na China continua recluso o dissidente
Que recebe o Nobel e fica ausente
E oferece ao mundo mais um presente!

No Ocidente prega-se a divina liberdade
E Wekliks pensa que é pura verdade
E vasculha, vira e revira sem necessidade!

O segredo dos deuses chega aos ouvidos
E muitos no Olimpo sentem-se ofendidos
E acusam o ladrão de dados perdidos!

Mais o crime não pode ser crime
Procura outro que só pode ser crime
Como é livre o polvo do livre Regime…

Entre os cínicos deuses do Ocidente
E o pachorrento e obeso Buda do Oriente
Situa a virtuosa Terra do Médio Oriente!

Passam os tempos e os costumes permanecem
E a justiça e os hábitos duros e cegos fazem
Com pedras mulheres e meninas perecerem!

Não havendo por rectidão dos machos as violações
Adultérios são para suas fêmeas as acusações
Nobres homens, belas acções e puros corações!


O autocarro parara… era a última paragem do destino
Ainda tinha tempo para lembrar do menino
Recém-nascido e abandonado ao seu destino!

Era das treze de hoje o jornal da tarde de sábado
Do dia depois dos direitos humanos desejados
E do jornalista reclamando direitos atropelados!

Triste e envergonhado por pertencer a espécie humana
Descia e via uma vendedeira com uma única banana
Que me dizia, feliz e dengosa, que se chamava Bela Susana!


João Furtado

12 de Dezembro de 2010