Acordei cedo e escrevi um poema, enquanto esperava a hora para a missa
do domingo que seria na Achada Grande Frente. Também fiz o meu chá e tomei o
meu pequeno-almoço ligeiro. Partimos a Natália e eu para a missa. O celebrante foi o padre Ronaldo, ele veio do Brasil
para implantar a Fazenda Esperança a pedido do Bispo da Diocese de Santiago
Menor, Cardeal D. Arlindo Furtado, segundo ele mesmo havia de dizer.
Certamente, tal como as outras missas, não teria destaque se o padre
Ronaldo não incluísse na homilia a vida e a morte do Eulípio. O padre Ronaldo
trabalha na construção da Esperança ainda seminarista criando e ajudando na
fazenda para toxicodependentes. Num belo dia estava o Padre, que ainda não era
padre, a dar catequese na Fazenda Esperança em São Paulo e viu ao fundo da sala
um homem que o escutava. Quando terminou a secção e ia a sair, o homem veio teu
com ele e lhe contou todo o seu passado. Este homem é o Eulípio.
Eulípio foi um drogado e estava na recuperação. Até aqui tudo bem,
afinal lá era uma Fazenda Esperança, mas o Eulípio foi muito mais, foi um
traficante e como traficante matou, Eulípio era um assassino, matou um bom
numero de pessoas e fez muito mais, também matou a sua própria mulher e acabou
na prisão e cumpriu 7 anos de cadeia. Saiu e foi ao encontro da família que lhe
restava. Mas a família não estava disposta a recolher aquele Eulípio drogado e
foi clara com ele.
- Queres o nosso apoio e viver cá conosco? Tudo bem, vai te tratar e
vem. Caso contrário, nós não te queremos cá.
O Eulípio resolveu aceitar o pacto da família e foi se tratar. Já estava
três meses no tratamento, quando encontrou-se com o seminarista Ronaldo. Depois
de lhe contar tudo da sua vida até aquele momento disse para ele:
-Ronaldo, olha que já fiz muito mal a muita gente e com muita
determinação. A partir de hoje é com esta mesma determinação que irei fazer o
bem. E já sei como, será ajudando a Fazenda Esperança.
O seminarista que agora é padre Ronaldo não acreditou, terminado o tempo
foi para outra e outra cidade. Um dia numa outra cidade em Ceará, Fortaleza,
foi para a Fazenda Esperança. Quem encontrou lá? O Eulípio, ele estava a
trabalhar na horta e que tanta normalidade, que nem parecia ter a idade que
tinha e a doença que contraíra quando se drogava, a Sida.
Eulípio lhe disse que terminou o tratamento obrigatório de um ano, foi
ver a família para ele ter a certeza que estava completamente curado e voltou
um mês depois. Já participara na criação de duas Fazendas Esperança e trabalhado
em mais duas.
O padre passou a acompanhar a vida do Eulípio, ele continuou a
trabalhar, acreditando no Senhor e dando tudo dele para a causa que abraçou.
Aos 60 anos apaixonou-se por uma mulher que também se apaixonou por ele.
Casaram-se e viveram por muitos anos sempre servindo Deus, Cristo e Espirito
Santo nos irmãos drogados que procuram reabilitação.
Há pouco tempo ele se entregou à Deus, o padre Ronaldo acredita que ele
é um Santo e eu também passei a acreditar.
Depois da missa, foi dar catequese e quando terminei fui almoçar,
descansar um pouco e a tarde, as 15 horas estive no encontro dos Legionários de
Maria na Paróquia de Nossa Senhora da Graça. Presididos pelo Irmão Juvenal
Tavares, rezamos as Orações habituais, inclusive o terço, nós cantamos e brincamos
e eu... Enchi-me de coragem e recitei um poema. Tive a impressão que gostaram.
Para terminar o dia fui ver o meu amigo Corsino na Ponta de Água e regressei já
ao por do sol. Estava calmo e sentia uma paz interior que caminhei
despreocupadamente até minha casa em Lem Ferreira. Foi mais um domingo da minha
vida.
Fim
João Furtado
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