segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

O PADRE RONALDO E O EULÍPIO





Acordei cedo e escrevi um poema, enquanto esperava a hora para a missa do domingo que seria na Achada Grande Frente. Também fiz o meu chá e tomei o meu pequeno-almoço ligeiro. Partimos a Natália e eu para a missa. O celebrante foi o padre Ronaldo, ele veio do Brasil para implantar a Fazenda Esperança a pedido do Bispo da Diocese de Santiago Menor, Cardeal D. Arlindo Furtado, segundo ele mesmo havia de dizer.
Certamente, tal como as outras missas, não teria destaque se o padre Ronaldo não incluísse na homilia a vida e a morte do Eulípio. O padre Ronaldo trabalha na construção da Esperança ainda seminarista criando e ajudando na fazenda para toxicodependentes. Num belo dia estava o Padre, que ainda não era padre, a dar catequese na Fazenda Esperança em São Paulo e viu ao fundo da sala um homem que o escutava. Quando terminou a secção e ia a sair, o homem veio teu com ele e lhe contou todo o seu passado. Este homem é o Eulípio.
Eulípio foi um drogado e estava na recuperação. Até aqui tudo bem, afinal lá era uma Fazenda Esperança, mas o Eulípio foi muito mais, foi um traficante e como traficante matou, Eulípio era um assassino, matou um bom numero de pessoas e fez muito mais, também matou a sua própria mulher e acabou na prisão e cumpriu 7 anos de cadeia. Saiu e foi ao encontro da família que lhe restava. Mas a família não estava disposta a recolher aquele Eulípio drogado e foi clara com ele.
- Queres o nosso apoio e viver cá conosco? Tudo bem, vai te tratar e vem. Caso contrário, nós não te queremos cá.
O Eulípio resolveu aceitar o pacto da família e foi se tratar. Já estava três meses no tratamento, quando encontrou-se com o seminarista Ronaldo. Depois de lhe contar tudo da sua vida até aquele momento disse para ele:
-Ronaldo, olha que já fiz muito mal a muita gente e com muita determinação. A partir de hoje é com esta mesma determinação que irei fazer o bem. E já sei como, será ajudando a Fazenda Esperança.
O seminarista que agora é padre Ronaldo não acreditou, terminado o tempo foi para outra e outra cidade. Um dia numa outra cidade em Ceará, Fortaleza, foi para a Fazenda Esperança. Quem encontrou lá? O Eulípio, ele estava a trabalhar na horta e que tanta normalidade, que nem parecia ter a idade que tinha e a doença que contraíra quando se drogava, a Sida.
Eulípio lhe disse que terminou o tratamento obrigatório de um ano, foi ver a família para ele ter a certeza que estava completamente curado e voltou um mês depois. Já participara na criação de duas Fazendas Esperança e trabalhado em mais duas.
O padre passou a acompanhar a vida do Eulípio, ele continuou a trabalhar, acreditando no Senhor e dando tudo dele para a causa que abraçou. Aos 60 anos apaixonou-se por uma mulher que também se apaixonou por ele. Casaram-se e viveram por muitos anos sempre servindo Deus, Cristo e Espirito Santo nos irmãos drogados que procuram reabilitação.
Há pouco tempo ele se entregou à Deus, o padre Ronaldo acredita que ele é um Santo e eu também passei a acreditar.
Depois da missa, foi dar catequese e quando terminei fui almoçar, descansar um pouco e a tarde, as 15 horas estive no encontro dos Legionários de Maria na Paróquia de Nossa Senhora da Graça. Presididos pelo Irmão Juvenal Tavares, rezamos as Orações habituais, inclusive o terço, nós cantamos e brincamos e eu... Enchi-me de coragem e recitei um poema. Tive a impressão que gostaram. Para terminar o dia fui ver o meu amigo Corsino na Ponta de Água e regressei já ao por do sol. Estava calmo e sentia uma paz interior que caminhei despreocupadamente até minha casa em Lem Ferreira. Foi mais um domingo da minha vida.

Fim

João Furtado

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